O coveiro da pátria – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Foto registrada hoje (19/04/20), em frente ao QG do Exército em Brasília, em Manifestação que pedia a Intervenção Militar e o Fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

 

Vamos falar dele novamente…Jair Messias Bolsonaro. Antes de mais nada, meu total apoio ao Congresso Nacional e ao STF. Meu total repúdio aos defensores da intervenção militar. Bolsonaro, como outros que já nos governaram em nossa história, “é um órfão de ditadura”…e agora, eleito democraticamente, busca destruir as próprias instituições que permitiram sua ascensão.

Se apresentando como “anti-establishment” para os incautos, ele é no fundo a encarnação do que significa o atraso e a velharia repugnante que tanto impossibilita o progresso da nação. Há três décadas no Congresso, se esforçou apenas pra incluir seus três filhos na mesma estrutura que hoje ele diz ser responsável pelos problemas do momento que vivenciamos.

Adepto da mistura do público com o privado e do familismo como meio de vida na política, até hoje só soube vangloriar torturadores e defender as restrições das liberdades democráticas…demagogo e oportunista, se utiliza do conceito de liberdade pra dizer que governadores e prefeitos cerceiam a liberdade de ir e vir dos cidadãos em decorrência das políticas de combate ao Covid-19. Quem se ilude e acredita nas afirmações do presidente sobre liberdade!? Liberdade de ir para uma sala de eletrochoque? Liberdade de ir pro pau de arara? Liberdade de cometer expurgos? Liberdade de calar a imprensa? Essa é a liberdade que Bolsonaro adora e gostaria que seus opositores sofressem hoje, se assim pudesse.

O país está à deriva…no papel de presidente ele se sai um anti-presidente. Agradeçamos aos chefes do executivo municipais e estaduais, que graças ao STF, tiveram possibilidade de se livrar das ações insolentes e desmedidas do presidente no que tange às políticas de isolamento social.

Um dia a pandemia termina e fica sob controle, graças aos cientistas e pesquisadores que tanto se dedicam por uma descoberta real e palpável, com resultados concretos para vencer a batalha contra o vírus…ciência esta que o presidente odeia e abomina.

O mandato do presidente também terminará um dia… oficialmente em 2022, mas pode se antecipar se deste modo o presidente levar a cabo suas ações. Nesse momento o vírus mais letal e perigoso a nação é o vírus Bolsonaro…o coveiro da pátria tripudia os mortos pelo covid-19 e mostra total indiferença a milhares de brasileiros que perderam entes queridos. E simultaneamente a isso tenta desestruturar a vida social da nação, promovendo o ódio e beligerância…é um total imoral…precisa ser parado. Caso contrário o caos será instalado e revertê-lo pode ser complexo e mesmo tardio.

Bolsonaro, o Rei Sol tupiniquim – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Um dos fatores de vários que estraga um país é ter políticos que ocupam o cargo máximo da nação e colocam a “fidelidade ideológica” a frente da razão, ou tentam a sobrepor a certas ações pragmáticas que devem conviver constantemente com a tarefa de um chefe de estado.

O Brasil sofre há muito tempo dessa “doença”…e isso acarreta danos sensíveis e em alguns casos irreversíveis. Mas meu propósito neste artigo não é tratar de relações exteriores e os danos de um ruim chanceler na condução dessas políticas, mas sim do prejuízo político, econômico e social que o país está tendo ao ter um chefe de estado que se curvou a um grupo de conspiracionistas e charlatões que pensam possuir a luz do saber e conseguem influenciá-lo a cada vídeo, a cada postagem, a cada atitude irracional, a cada devaneio feito irresponsavelmente.

O presidente, que mostra ter um frágil capacidade intelectual, demonstra a cada minuto temer o círculo mais próximo de figuras públicas que o cerca. O mesmo diz querer técnicos qualificados ao seu lado, mas sua “equipe de trabalho intelectual complexo e criativo” (entenda-se Olavo de Carvalho, seus filhos e outros membros desse mesmo séquito ‘filosófico’) a qual ele se comporta como “cordeirinho”, possuem ódio a técnica quando a mesma pode diminuir ou deixar na sombra a figura do grande “líder”. Para ele não desaparecer em meio aos ministros, devido a sua insignificância, se faz necessária a constante disseminação da polêmica, da desinformação e da política de desagregar e desacreditar seus “colaboradores” (ministros). Assim ele fica em voga para a turbamulta de militantes fanáticos que pulam do precipício se o mesmo determinar.

A máquina de disseminação do ódio e da trituração de reputações bolsonarista, que já desqualificou ex-ministros da gestão, como Bebianno e Santos Cruz, agora escolheu Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Saúde que atua como peça-chave no combate a disseminação do Covid-19 no país, como o problema do momento. Vejam bem, o problema não é o combate ao vírus que já matou cerca de 500 pessoas e infectou mais de 11 mil. O problema é o protagonismo do ministro da área que pede atenção ao momento. Em pesquisa realizada pelo Datafolha nesta última semana, as ações adotadas pelo Ministério da Saúde possuem mais que o dobro da aprovação da gestão Bolsonaro diante a população (76% a 33%).

Vale se ressaltar que o ministro segue normas adotadas pela Organização Mundial da Saúde para o combate a pandemia, e o presidente a todo momento busca descreditar as mesmas políticas, seja acusando governadores, prefeitos e outros que não aceitem a tese dele: da “gripezinha” e do “resfriadinho”. Ao mesmo tempo parece seguir a perspectiva do “Arbeit macht frei“, frase colocada nas entradas dos campos de concentração nazistas – em tradução livre: “o trabalho liberta”. Ferrenho defensor do isolamento vertical, ou mesmo do término de qualquer isolamento, o presidente quer a todo preço que a vida econômica e social volte ao que era anteriormente a chegada do vírus ao país. E para isso já deixou claro em entrevistas que uma hora todos morrerão, então tanto faz os grupos de risco morrerem agora ou a posteriori…que voltemos todos ao trabalho, coloquemos nossos parentes idosos ou nossos doentes com comorbidades em algum lugar isolado de todos e vamos adiante…este é o pensamento do presidente…em sua “vasta cultura”.

Nada mais contraditório e claro para vermos os verdadeiros interesses e preocupações que dominam a mente do presidente. Tudo pautado friamente em cálculos políticos. Agindo não muito diferente de Luís XIV, da França, logo ele dirá: “O Estado sou eu”. Só que ele esquece que não vivemos em meio ao despotismo esclarecido. E o sonho dele e de muitos dos seus de impor a mordaça e o que ele pensa à força, não terá sucesso.

A cada nova atitude de colar em seus colaboradores os problemas de sua gestão ele vai mostrando quão fraco e paranoico é. E líderes fracos que pensam ter força, acabam como todos os outros…no esquecimento e fora do poder.

Bolsonarismo e a relativização da morte – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Descobrimos que uma sociedade –  no campo cultural e social – chegou ao fundo do poço quando ocorre a relativização da morte de seus compatriotas. No caso brasileiro, mortes causadas por uma pandemia de escala global estão sendo tratadas como se fossem nada mais que instrumentos de narrativa política.

O próprio presidente da República, ser abjeto e desprezível, teve a sordidez de promover uma tese negacionista com relação a mortes causadas pelo covid-19 no estado epicentro do problema no país – São Paulo – durante entrevista concedida ao jornalista José Luis Datena, ontem.

No ponto de vista do presidente, as mortes divulgadas pelo estado são uma farsa, apenas pra atingir seu governo “celestial”. Sim, o defensor da tortura e da ditadura militar nega os próprios dados divulgados diariamente pelo Ministério da Saúde, que ele como comandante em chefe da nação, institucionalmente seria responsável de administrar e legitimar.

Já são quase 100 mortes em todo país e mais de 3500 casos confirmados de pessoas infectadas pelo vírus. Número que pode ser muito maior, segundo algumas autoridades médicas, em razão da demora dos resultados dos testes que levam a constatação da causa morte.

Sua militância legitima seu negacionismo ao dizer que a morte não é culpa do coronavirus, mas sim das comorbidades que as pessoas que tiveram suas vidas interrompidas apresentavam. Sim…a militância bolsonarista desdenha dos mortos e defende o vírus. A culpa seria das pessoas – “fracas, estragadas e doentes” – de perderem a batalha para essa “gripezinha”, esse “resfriadinho”.

Quem tem “histórico de atleta” e pertence a uma classe superior de seres humanos não precisa se preocupar. A “raça ariana” na versão tupiniquim já tem suas teses sendo defendidas e consagradas de forma nítida e bem desenvolta no cotidiano da pandemia e principalmente nas redes sociais.

Notem que a populacão “estragada, sem histórico de atleta e doente” permanecia viva antes da chegada do vírus. “Fraquejaram” porque não mereciam mais viver.

Carreatas em defesa do Novo Reich tupiniquim pululam em algumas regiões do país, pedindo o fim do isolamento e das medidas de distanciamento social para combater a expansão de casos do coronavirus. Os defensores do vírus e parceiros da morte dizem que a manifestação é necessária para a economia do país não parar.

A esquizofrenia social torna-se uma arma na mão do presidente da república e de seus asseclas, o poder é usado para adormecer a consciência de parcela dos sujeitos para fazer com que os mesmos subestimem a gravidade daquilo que fazem e da realidade que de fato os cerca.

A desumanização das vítimas que morrem em decorrência do covid-19 por parte do presidente e do seu exército de militantes sinaliza o triste momento que vivemos. Estamos sem um chefe de estado íntegro e qualificado para governar no momento mais grave que o Brasil enfrenta.

Pelo poder, Bolsonaro e seu “exército” já mostrou que pode criar inimigos e apagar da memória quem sempre lhe estendeu a mão, vide o silêncio e o total descaso com que tratou a morte de Bebianno, personagem que foi peça-chave para o mesmo se eleger. Foi descartado e apagado da memória afetiva dos Bolsonaro após críticas ao governo e aos filhos do presidente, como se não tivesse méritos ou relevância alguma.

Bolsonaro já desprezou os próprios eleitores pelos votos que recebeu, dizendo que ele não está nem ai com quem se desapontou com ele como presidente, e que não deve satisfação alguma aos mesmos. Pensamento de um nítido ditador. Que não necessita prestar contas e dar satisfações a seu povo.

Que os chefes do poder executivo dos estados e municípios continuem firmes em sua luta contra o coronavirus, seguindo as diretrizes e normas defendidas e esclarecidas pela OMS, sem se curvarem as sandices e atitudes tresloucadas do presidente da república…que demonstra a cada novo dia ser um total irresponsável com a vida de milhares de pessoas e a condução da nação.

 

Um imoral no poder – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Voltemos a falar da atitude imoral e antirrepublicana do mandatário da República. Ontem sem entrar em contato com ministros, tendo apenas a seu lado Carlos Bolsonaro e o gabinete do ódio, Bolsonaro fez um discurso de proporções dantescas em rede nacional desqualificando ações tomadas por governadores e prefeitos nas políticas adotadas para combater o avanço do covid-19.

Fazendo um discurso rasteiro em defesa de um economicismo de araque ( sem propostas concretas e sem ações claras de justiça social) e literalmente lavando às mãos e dizendo um dane-se aos mais de 30 milhões de idosos de nosso país, o presidente voltou a usar o termo “gripezinha” e “resfriadinho” para se referir ao vírus que está em mais de 170 países do mundo e levou a uma pandemia sem proporções – com quase 20 mil mortes em todo o planeta e mais de 430 mil pessoas infectadas em um curto período de tempo.

Bolsonaro mostra de modo claro sua faceta antihumana e sádica. Coloca o ministro da saúde, Mandetta, em uma situação de total desmoralização e impossibilidade de continuar na pasta, a não ser que se submeta aos devaneios de Bolsonaro e tenha que rasgar seu diploma de médico e manchar sua biografia para sempre.

Políticos de todas as regiões reprovaram a postura non sense do presidente, assim como não compreenderam como um chefe de estado em uma reunião com governadores de diferentes regiões diz X e depois vem a tv dizer Y como se fosse um pobre coitado isolado, sem ter noção de quem o cerca e do que ocorre na realidade do país.

Há fatores claros e incontestáveis para se abrir um processo de impeachment contra o senhor presidente. Ele já adotou posturas incompatíveis com a investidura do cargo inúmeras vezes e se algo não for feito o país caminhará rumo a uma comoção intestina de graves proporções. E parece ser isso o que o presidente quer…criar o caos social e clima de guerra civil, para recorrer à mecanismos discricionários e efetivar o modus operandi de poder que tanto o agrada, o autoritarismo.

Que o Poder Judiciário e o Poder Legislativo consiga mais do que nunca colocar freios e inibir cada gesto e ato disforme e delirante deste traidor da pátria. O Brasil é maior que Bolsonaro, não podemos ser reféns de um despreparado e desequilibrado mental, que leva a diante um governo cheio de recuos, fracassos e defecções.

Futurismo, gangrena e Bolsonaro – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Há meses evito tratar de questões da conjuntura política do país. Mas Bolsonaro se esmera por fazer-me voltar a falar do seu clã e acólitos. Sua postura sórdida, preconceituosa e vil retrata bem como o chefe do poder executivo trata a investidura do seu cargo perante a sociedade civil. Um total desrespeito ao decoro e uma incapacidade completa de se relacionar com a diferença e o dissenso; vide atual episódio envolvendo a jornalista da Folha de São Paulo, Patricia Campos Mello, que foi atacada de modo pueril e vergonhoso pelo presidente.

São intelectuais, são jornalistas, são os mais variados setores da sociedade civil que se veem agredidos e ofendidos pelo desequilíbrio e total insensatez do chefe de estado. Não à toa hoje se cerca apenas de militares no Palácio do Planalto. Bolsonaro trouxe o quartel-general pra dentro do Palácio.

Após tais episódios se evidência algumas características marcantes deste governo com um movimento do século XX. Iniciado em 1909, pelo poeta italiano Filippo Marinetti, o movimento futurista dizia rejeitar o moralismo e o passado e propunha um novo tipo de beleza, baseado na velocidade da industrialização, na exaltação do militarismo e na glorificação da guerra, além de  apresentar outros aspectos[1]. Na Rússia, o futurismo se alinharia à Revolução de 1917, tendo como expoente o poeta Vladimir Maiakovski. Marinetti alinhou-se com o fascismo, que surge na Itália, na década de 1920.

Pra quem já disse em março de 2019, que “não nasceu pra ser presidente, mas nasceu pra ser militar”, faz sentido o fetiche de Bolsonaro e os bolsonaristas pelo militarismo. Onde isso vai dar? Estamos assistindo a uma espécie de manifesto Futurista de Marinetti na versão bolsonarista? Glorificação a ‘guerra’, ao ‘militarismo’, ao ‘patriotismo’. A exaltação da ‘violência’ como modus operandi e o ‘menosprezo à mulher’. Assim como a defesa da ‘demolição de museus e bibliotecas’ e a libertação do país de sua “gangrena” de professores e outros estudiosos.

Não sei se o presidente Bolsonaro pensa ter aplausos de uma multidão entusiasta destas ações encontradas no manifesto futurista, adaptado a uma versão tupiniquim, e se sim, por quanto tempo será o apoio a essa marcha de insensatez.

Cento e dez anos se passaram do manifesto, e quem pode acabar sendo a “gangrena” ao progresso do Brasil é unicamente Bolsonaro, com sua intolerância e total incompatibilidade com os preceitos da democracia liberal, e não as diferentes teias e grupos da sociedade civil.

[1] : https://pt.wikisource.org/wiki/Manifesto_Futurista

 

Chavismo e Democracia são incompatíveis – por Moacir Pereira Alencar Júnior

Dilma Rousseff recebe presidente da Venezuela

Dilma Rousseff recepciona Nicolás Maduro no Palácio do Planalto e recebe quadro com imagem do ditador populista Hugo Chávez.

Hugo Chávez chegou ao poder em 1999, por meio de um movimento nacionalista e anticorrupção que se voltava contra governos de políticos tradicionais como Andrés Perez e Rafael Caldeira. Em 1992, Chávez foi um dos militares a tentar dar um golpe que viesse a destituir Andrés Perez do poder, sem sucesso.
Preso e depois anistiado, venceu as eleições de 1998, e rapidamente buscou mudar o funcionamento das instituições do estado venezuelano. Em seu primeiro ano de governo convocou uma Assembleia Constituinte que promoveu alterações no campo institucional que já deixava notório suas intenções de centralização de poder. Extinguiu o senado federal tornando o sistema legislativo unicameral, e aumentou os poderes presidenciais. Assim como mudou o mandato presidencial de 5 para 6 anos e aprovou a reeleição.
Com o petróleo em valores estratosféricos naquele período pode usar muito capital pra investimentos em casas populares e outros programas sociais, assim como alterou o sistema de seguridade social. Estava em construção a imagem de um líder autoritário populista. Em 2002, literalmente declarou guerra a iniciativa privada e à livre empresa, desapropriando terras e passando a cindir as classes sociais. Sofreu manifestações que levaram a uma greve geral e a um locaute, onde um grupo de oficiais anunciou sua renúncia e destituição, mas manifestações populares e comandantes militares salvaguardam a manutenção dele no poder.
Em 2005, Chávez se apresenta como o pai do “socialismo do século XXI”: se alinhando fortemente a Cuba, a qual vende petróleo a preços subvencionados. Nas eleições parlamentares do mesmo ano a oposição boicotou o processo eleitoral e Chávez obteve o domínio total da Assembleia Nacional. Na sequência, em 2006, já reeleito, assume o controle de 32 campos de petróleo pertencentes a empresas multinacionais, passando tudo ao controle majoritário da estatal petrolífera PDVSA.
Em 2007, passou a atacar deliberadamente a imprensa e órgãos de comunicação, dando mais um passo autoritário rumo a perpetuação no poder. A concessão a uma das principais redes de TV do país – RCTV (principal crítica de seu governo) – não foi renovada e o canal de TV saiu do ar. Neste contexto já existia uma ditadura clara…. desapropriações e o fim da liberdade de imprensa eram nítidos.
Em 2009, mais um passo autoritário foi dado: a proposta de reeleição por tempo indeterminado foi aprovada por emenda constitucional. Nesse cenário mais estatizações nos setores da economia foram tomadas, assim como o controle do aparato de estado aumentou gradativamente, também chegando ao Poder Judiciário.
Em 2010, a Venezuela já apresentava problemas com a inflação e o governo desvalorizou o bolívar forte diante do dólar. A dependência do petróleo é uma marca da inconstância do país diante as oscilações do preço do produto no mercado mundial. Ao fim de 2012,  Chávez é novamente reeleito para mais um mandato. Com câncer, retorna a Cuba onde fazia tratamento … a justiça permite que ele tome posse mesmo estando internado em outro país. Morre em março de 2013, e Maduro assume como presidente interino. Ainda em meio a comoção de sua morte, Maduro é eleito em abril em resultado contestado pela oposição.
Maduro assumiu em meio a um cenário de amplificação da crise e aumento do desabastecimento de vários produtos e gêneros alimentícios, assim como de uma crise energética. Ganhou mais poderes especiais da Assembleia, que o permitiu governar por decreto por um ano, impedindo manifestações populares contra o governo e prendendo um dos líderes da oposição -Leopoldo López- acusado de incitar a violência e à desestabilização do governo (permanece preso até hoje).
Mortes em manifestações e prisões indiscriminadas de estudantes passaram a ser a tônica de tratamento aos dissidentes. Ao sofrer derrota esmagadora nas eleições parlamentares de 2015, onde a oposição conquistou quase dois terços das cadeiras da Assembleia, Maduro tirou todos os poderes da mesma, tornando-a figurativa. Em seu lugar criou-se em 2017 uma Assembleia constituinte com membros bolivarianos escolhidos a dedo pelo ditador.
Em 2018, em novas eleições questionáveis e não reconhecidas por vários países, Maduro foi reeleito em um processo eleitoral onde figuras principais da oposição foram impedidos de participar do pleito. As instituições da Venezuela já deixaram de ser democráticas há mais de uma década….isso é inegável.
Resumir toda a situação atual venezuelana e a pressão pelo fim do governo Maduro por países comprometidos com a democracia ao interesse americano em intervir por causa do petróleo é um disparate muito cômodo de ser replicado pela esquerda latino-americana…é tapar o sol com a peneira e não aprender com a história.
Enquanto mais de 50 países: membros da União Europeia (Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, dentre outros); assim como EUA, Brasil, Argentina, Canadá, Chile, etc, já não reconhecem a ditadura de Maduro. Com Maduro estão ditaduras declaradas como a cubana, chinesa, russa, nicaraguense e turca.
Uma frase dita a mim por um professor doutor em ciência politica de uma universidade federal anos atrás – apaixonado pelo socialismo do século XXI e pelo lulopetismo – resume bem o que pensam: “eu prefiro errar com a esquerda a acertar com a direita.” Em suma… “sendo esquerda ditatorial ou democrática, tanto faz, apoiamos”. É uma ‘cegueira’ ideológica asquerosa.
É verdade que também temos estas figuras representadas à direita… que ainda no presente exaltam regimes ditatoriais do seu espectro ideológico, com propostas nacionalistas e de feição populista. Inclusive nosso atual presidente (também militar como Chávez) e seus ideólogos não escondem serem populistas de direita – como mesmo já se auto-classificaram seja via Olavo de Carvalho ou Steve Bannon (amigo de um dos filhos do presidente). Próprio Bolsonaro já exaltou Hugo Chávez há alguns anos, quando era amigo do petismo no poder.
Estes radicalismos são os inimigos declarados da democracia liberal em toda sua essência em nosso tempo presente. Devem ser combatidos na medida certa para não originarem novos ‘chavismos’ com pólos invertidos e mesmos vícios.

Vote pela “Democracia” – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Na imagem, o filósofo grego Clístenes …um dos “pais” da Democracia.

Vote pela “democracia” e ganhe grátis um indulto para Lula, o condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Vote pela “democracia” e faça o “injustiçado” Lula ministro. Vote pela “democracia” e eleja pela quinta vez consecutiva um partido hegemônico que depois de uma série de crimes provados e figurões condenados, ainda dizem que são “perseguidos políticos” e “guerreiros do povo”. Vote pela “democracia” e faça Gilberto Carvalho e Miriam Belchior ministros (ambos envolvidos na nebulosa morte de Celso Daniel, em 2002). Vote pela “democracia” e aprove a política econômica equivocada dos governos Dilma com sua “nova matriz econômica”, que nos levou ao cadafalso econômico atual. Vote pela “democracia” e eleja “antifascistas” stalinistas. Vote pela “democracia” e ataque deliberadamente o “Poder Judiciário”, que “persegue” seu partido. Vote pela “democracia” e permita que o PT indique os 11 ministros que existem no STF…com mais um mandato terão indicado completamente todos. Vote pela “democracia” e diga que o “mensalão” e o “petrolão” não existiram… Vote pela “democracia” e diga que a corrupção institucionalizada no Congresso para aprovar projetos de leis e decretos com os “…lãos” não foram por intenção hegemônica de subverter a ordem constituída e se perpetuar no poder. Vote pela “democracia” e faça Dilma Rousseff e Lindbergh Farias ministros (mesmo sendo rechaçados nas urnas pelo eleitorado que já não suportava tanto cinismo e incompetência). Vote pela “democracia” e aplauda o partido que dá apoio deliberado as ditaduras de Cuba, da Nicarágua, da Venezuela e de países da África Negra. Vote pela “democracia” e eleja a “defesa de direitos humanos” seletivos pela “ideologia”. Vote pela “democracia” e eleja um presidente que foi um dos piores prefeitos do país e nem reeleito foi. Vote pela “democracia” e depois não reclame dos problemas existentes no país.

Aos amigos petistas e bolsonaristas – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Deixo aqui uma reflexão aos meus amigos petistas e amigos bolsonaristas do Facebook….sim, para ambos. Sempre busquei cultivar essa divergência de pessoas com visões plurais no meu facebook, apesar de ver dezenas de pessoas me excluindo por não aceitarem meus pontos de vista… somente nas duas últimas semanas já foram umas 15 ao menos que me excluíram de suas listas e foram pra suas ‘redomas de conforto’. Lembro sempre de um professor de escola que tive no ensino fundamental, que dizia sábias palavras: “não vivam em caixinhas de algodão, não sejam medíocres”.

Aos meus amigos de esquerda e que apoiam Haddad enfatizo o pensamento do sociólogo já falecido – Guerreiro Ramos – que em 1963, em seu livro ‘Mito e Verdade da Revolução Brasileira’ – enfatizava que a crise brasileira daquela época era também uma crise de cultura política. Para Ramos, o Brasil passava por um processo de orfandade política. A crise de liderança poderia fazer com que a tão falada e possível ‘revolução brasileira’ se tornasse uma ‘jornada de otários’. Haveria muitos que viviam de ‘gesticulações revolucionárias e de ficções verbais’. Ele também enfatizava que o ativismo que se manifestaria nos setores sindicais, na categoria dos sargentos e dos oficiais das forças armadas, e em outras esferas nacionalistas, constituiria enorme capital político, porém este capital estaria exposto ao ‘malbaratamento’, em meio a ausência de lideranças competentes e realistas, que dessem o devido sentido verdadeiramente nacional.

Fazendo logicamente algumas distinções com nosso momento presente, fica evidente os  erros semelhantes da esquerda promovidas agora no Século XXI. Durante a ‘democracia populista’ (1946-1964) – assim como agora com o lulopetismo – a esquerda considerava que sua permanência no poder seria perpétua, e que seus erros e ‘gesticulações revolucionárias’ e ‘ficções verbais’, assim como a construção do “nós contra eles” por  mais de uma década por meio de narrativas sem solidez iriam evitar essa debacle sem autocrítica …espero que realmente a façam agora. Foram essas gesticulações revolucionárias e ficções verbais que levaram o Brasil a este cenário de hoje.

Aos meus amigos bolsonaristas enfatizo uma reflexão e pensamento do Visconde de Uruguai – Paulino José Soares de Sousa – que foi deputado, senador, ministro e conselheiro de Dom Pedro II. Era membro do Partido Conservador e atuou como figura de relevo no período do chamado ‘regresso conservador’, também conhecido como Tempo Saquarema – entre os últimos anos do período regencial (fim dos anos 1830) e início do denominado “renascer liberal”, nos anos sessenta do século XIX. Paulino acreditava que era “ preciso empregar todos os meios para salvar o país do espírito revolucionário, porque este produz a anarquia, e a anarquia destrói, mata a liberdade, a qual somente pode prosperar com a ordem”.

Dito isso, enfatizo que nas normas e regras democráticas não cabe jogar um contra o outro e fazer discursos irresponsáveis, sendo um possível virtual presidente da República ou o deputado federal mais votado do país. Antes de mais nada, “a soberba é má conselheira”, conforme enfatizou Marco Antônio Villa, no Jornal da Manhã da Jovem Pan há quatro dias. Mesmo que Bolsonaro seja eleito com 60% dos votos ele terá que governar para aproximadamente 210 milhões de brasileiros… não pode ser um irresponsável que diga que os “vermelhos serão banidos do país”, que irão parar na “cadeia” apenas por suas visões antagônicas ao seu grupo político que ascende ao poder. Não cabe mais a um candidato à presidência da República que lidera as pesquisas de opinião com folga sobre seu adversário fazer discursos de ódio e terror contra opositores (petistas e bolsonaristas sempre gostam dessa estratégia para alimentar a guerra política). Ter certa ordem é vital a democracia…com desordem a mesma não impera; todavia que ordem pode preponderar quando a liberdade se torna seletiva pela visão ideológica?

Assim como os petistas se sentiram donos do poder por longa data, Bolsonaro também não pode pensar que será dono do poder. A legitimação de sua eleição pelas urnas não dá a ele plenos poderes para passar por cima das instituições vigentes. Seus desvarios e máximas devem ser contidas -e espero que sejam apenas retórica – no contrário esse governo será um fracasso, e os mesmos que hoje o estão pondo lá, com toda certeza brigarão para tirá-lo… sempre dentro das regras do jogo democrático, que espero que seja as regras que ele siga. Conciliar e dialogar é vital a um chefe de Estado…quem assim não seguir já caminhará para a tirania.

Aos que não se consideram de nenhum destes espectros mas votarão em um deles, ou mesmo anularão, apenas digo que o centro político é requisito essencial da integridade de poder, palavras sábias também ditas pelo sociólogo Guerreiro Ramos, em 1963.

 

Ceticismo – por Moacir Pereira Alencar Júnior

 

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Vote em Bolsonaro: “Fascista” / Não vote em nenhum deles: “Colaboracionista do fascismo” / Vote em Haddad: “Baluarte da democracia”.

Muitos perguntam porque centrei meus ataques ao PT neste segundo turno, e “completamente nada falo” de Bolsonaro. Antes de mais nada já expus de vários modos minhas críticas a estas duas agendas de Brasil que hoje disputam o poder. Acredito que a democracia pode ter os mais variados espectros na seara política – dos extremistas de direita aos extremistas de esquerda. E é exatamente este contrabalanceamento que permite termos a construção da democracia – aos trancos e barrancos – e seu melhor aprimoramento.

Nossa redemocratização nasceu torta…se por um lado ela tem 30 anos, por outro ela nunca teve de forma clara um partido com propostas eminentemente conservadoras. Um caso similar é o chileno, que somente 20 anos depois do fim da ditadura de Pinochet, em 2010, elegeu um governo conservador com Sebastian Piñera (centro-direita apoiada por uma direita radical ainda saudosa de Pinochet). No caso chileno, o poder se revezava entre DC (Democrata Cristão) e PS (Partido Socialista) durante 20 anos, até o partido da Renovação Nacional eleger Piñera.

PT-PSDB, no Brasil, sempre foram “oposições” neste período, mas jamais um dos partidos era de fato antagônico em seus ‘projetos maiores’. Tal como o DC e o PS chileno, havia muito mais similaridades do que distinções entre as origens destas duas legendas. Mas no caso brasileiro, a narrativa de poder petista levou o PSDB a um campo da qual nunca soube se adaptar e mesmo se apresentar (centro-direita). Já tive a oportunidade de perguntar pessoalmente isso a Fernando Henrique Cardoso, em 2012.

Podemos falar da existência de grupos difusos em vários partidos brasileiros com defesa de agendas conservadoras, mas jamais poderíamos falar de partidos políticos. Natural que em um momento uma direita se organizaria no Brasil – seja ela moderada como radicalizada – e o PSL abraçou essa causa e agora representa tal agenda. E se a mesma ascendeu é porque os outros grupos não souberam enxergá-la da maneira devida. A direita pós-redemocratização foi sempre caricaturizada (Digo isso porque em meu mestrado estudei pensamento conservador, e sei como as análises sobre o mesmo são  tão reducionistas no mundo acadêmico, marginalizadas).  E aqui vale ser ressaltado que qualquer grupo ‘não petista’ foi estigmatizado nesta última década (sem diferenciação – PT sempre colocou todos no mesmo balaio – “todos são “fascistas”, “reacionários”, “golpistas”, etc”).

Hoje a “caricatura radicalizada” ganhou porte e asas, e assumirá o poder, pelas urnas. Porque não vejo nenhum intelectual dos outros grupos que estão sendo derrotados a fazer uma análise crítica deste por que? Sabemos que por 50 anos a ditadura militar fez de nossas universidades um polo de resistência ao autoritarismo. Mas um polo que apresentou muitas contradições, e ficou refém de uma única visão de mundo, também radicalizada. A ditadura militar jamais tentou incutir na mente dos brasileiros um monopólio de pensamento e formação ideologizada. Seu autoritarismo e repressão seguiram outros caminhos. Já após o fim da ditadura, a universidade se tornou um polo de formação majoritária de uma única visão ideológica. Permaneceu a mesma militante de via única, pouquíssimo aberta ao plural e ao diálogo nas ciências humanas.

Sabemos que o que molda uma população mais do que autoritarismo e repressão é ter o controle hegemônico do pensamento, por décadas e por gerações nas instituições de ensino secundário e no ensino superior. E quando você tenta naturalizar essa visão a vida da sociedade, corre o risco de criar uma reação como a que vemos hoje representada em Bolsonaro. Negar isso é impossível.  A Universidade Pública foi literalmente cooptada pelo petismo muito antes dos mesmos estarem no poder, e após estes 14 anos se tornaram indissociáveis. Se este governo Bolsonaro cair em erro, ou mesmo trocar os pés pelas mãos – para estas afirmações ainda cabe o benefício da dúvida – lembremos que uma comoção intestina não começa de um dia para noite. Por isso sou cético com estes dois grupos.

PSDB : Renovação ou Morte – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Uma semana para as eleições presidenciais e o PSDB novamente se perde em meio as suas contradições e vaidades. Há 16 anos se acostumou em ser oposição sem realmente ser. Considerava que o próprio mecanismo de equilíbrio de forças manteria o partido sempre na posição antagônica ao PT por inércia e acomodação, como se nossa democracia fosse bipartidária. Perdeu quatro eleições presidenciais para o PT, mas no fundo assistia e aplaudia governos petistas, uma vez que a sua origem socialdemocrata tinha origem nos valores da centro-esquerda. Única diferença era ser pragmático no campo econômico, e saber adotar quando necessário medidas liberalizantes na economia; coisa que o PT jamais soube fazer, colocando a ideologia a frente dos problemas do país (vide caso do Joaquim Levy no governo Dilma).

Quando pesquisadores e cientistas políticos renomados do exterior – como Frances Hagopian, de Harvard; dizia que o PSDB deveria se reafirmar como de centro-direita, uma vez que o PT já tinha monopolizado fortemente todas as bandeiras de esquerda após mais de uma década no poder; FHC corria para negar essa possibilidade, e se mostrava ferrenhamente contra. Dizia Hagopian: “Acredito que eles (os tucanos) podem se destacar nesse espaço de centro-direita, se tiverem coragem para fazer isso”, afirmava a professora da Universidade Harvard. “Precisam mostrar o que fizeram, ser fiéis a si mesmos”, completa ela, referindo-se às transformações capitaneadas pela PSDB na gestão FHC (1995-2002) ”¹.

Mas o PSDB não fez a tarefa de casa…se calava, titubeava e hoje o resultado é este…a redução esmagadora de intenções de votos nas pesquisas a presidência da república e a grande chance de perder o principal estado do país, onde por comodismo próprio e inércia de adversários, governou por 24 anos. Quem sabe sofrendo um abalo deste peso o partido busque se renovar e tirar o centro das decisões da cúpula paulista, buscando uma renovação de pensamento e quem sabe de revitalização de quadros. Afinal essa cúpula parece ter se perdido no tempo e não acompanhado as mudanças da sociedade brasileira…tanto não deu atenção como se acomodou e hoje amarga a quarta colocação na corrida presidencial.

Conversas de bastidores dizem que o presidente de honra do partido – Fernando Henrique Cardoso – deve declarar apoio a Haddad no segundo turno², contrariando posição de outros políticos do partido; confirmando quão frágil era e sempre foi de fato esse dito antagonismo, haja vista que nem o primeiro turno ocorreu e Alckmin ainda está na disputa (ao menos protocolar). Ao afirmar possível apoio ao PT e não adotar uma posição de liberação de votos de seus filiados e possíveis eleitores simpatizantes, o partido se apequena e fica totalmente sem bases claras junto ao eleitorado…uma hora a inanição daria nisso…e esta hora chegou.

1 Em 2011, publiquei esta entrevista de Hagopian dada ao Jornal Estadão em meu blog. Aqui coloco o link para os interessados na entrevista dada na época: https://moaciralencarjunior.wordpress.com/2011/10/02/%E2%80%98psdb-precisa-assumir-se-como-partido-de-centro-direita%E2%80%99-diz-pesquisadora-de-harvard/

2 https://www.oantagonista.com/brasil/a-implosao-do-psdb/