Futurismo, gangrena e Bolsonaro – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Há meses evito tratar de questões da conjuntura política do país. Mas Bolsonaro se esmera por fazer-me voltar a falar do seu clã e acólitos. Sua postura sórdida, preconceituosa e vil retrata bem como o chefe do poder executivo trata a investidura do seu cargo perante a sociedade civil. Um total desrespeito ao decoro e uma incapacidade completa de se relacionar com a diferença e o dissenso; vide atual episódio envolvendo a jornalista da Folha de São Paulo, Patricia Campos Mello, que foi atacada de modo pueril e vergonhoso pelo presidente.

São intelectuais, são jornalistas, são os mais variados setores da sociedade civil que se veem agredidos e ofendidos pelo desequilíbrio e total insensatez do chefe de estado. Não à toa hoje se cerca apenas de militares no Palácio do Planalto. Bolsonaro trouxe o quartel-general pra dentro do Palácio.

Após tais episódios se evidência algumas características marcantes deste governo com um movimento do século XX. Iniciado em 1909, pelo poeta italiano Filippo Marinetti, o movimento futurista dizia rejeitar o moralismo e o passado e propunha um novo tipo de beleza, baseado na velocidade da industrialização, na exaltação do militarismo e na glorificação da guerra, além de  apresentar outros aspectos[1]. Na Rússia, o futurismo se alinharia à Revolução de 1917, tendo como expoente o poeta Vladimir Maiakovski. Marinetti alinhou-se com o fascismo, que surge na Itália, na década de 1920.

Pra quem já disse em março de 2019, que “não nasceu pra ser presidente, mas nasceu pra ser militar”, faz sentido o fetiche de Bolsonaro e os bolsonaristas pelo militarismo. Onde isso vai dar? Estamos assistindo a uma espécie de manifesto Futurista de Marinetti na versão bolsonarista? Glorificação a ‘guerra’, ao ‘militarismo’, ao ‘patriotismo’. A exaltação da ‘violência’ como modus operandi e o ‘menosprezo à mulher’. Assim como a defesa da ‘demolição de museus e bibliotecas’ e a libertação do país de sua “gangrena” de professores e outros estudiosos.

Não sei se o presidente Bolsonaro pensa ter aplausos de uma multidão entusiasta destas ações encontradas no manifesto futurista, adaptado a uma versão tupiniquim, e se sim, por quanto tempo será o apoio a essa marcha de insensatez.

Cento e dez anos se passaram do manifesto, e quem pode acabar sendo a “gangrena” ao progresso do Brasil é unicamente Bolsonaro, com sua intolerância e total incompatibilidade com os preceitos da democracia liberal, e não as diferentes teias e grupos da sociedade civil.

[1] : https://pt.wikisource.org/wiki/Manifesto_Futurista