Chavismo e Democracia são incompatíveis – por Moacir Pereira Alencar Júnior

Dilma Rousseff recebe presidente da Venezuela

Dilma Rousseff recepciona Nicolás Maduro no Palácio do Planalto e recebe quadro com imagem do ditador populista Hugo Chávez.

Hugo Chávez chegou ao poder em 1999, por meio de um movimento nacionalista e anticorrupção que se voltava contra governos de políticos tradicionais como Andrés Perez e Rafael Caldeira. Em 1992, Chávez foi um dos militares a tentar dar um golpe que viesse a destituir Andrés Perez do poder, sem sucesso.
Preso e depois anistiado, venceu as eleições de 1998, e rapidamente buscou mudar o funcionamento das instituições do estado venezuelano. Em seu primeiro ano de governo convocou uma Assembleia Constituinte que promoveu alterações no campo institucional que já deixava notório suas intenções de centralização de poder. Extinguiu o senado federal tornando o sistema legislativo unicameral, e aumentou os poderes presidenciais. Assim como mudou o mandato presidencial de 5 para 6 anos e aprovou a reeleição.
Com o petróleo em valores estratosféricos naquele período pode usar muito capital pra investimentos em casas populares e outros programas sociais, assim como alterou o sistema de seguridade social. Estava em construção a imagem de um líder autoritário populista. Em 2002, literalmente declarou guerra a iniciativa privada e à livre empresa, desapropriando terras e passando a cindir as classes sociais. Sofreu manifestações que levaram a uma greve geral e a um locaute, onde um grupo de oficiais anunciou sua renúncia e destituição, mas manifestações populares e comandantes militares salvaguardam a manutenção dele no poder.
Em 2005, Chávez se apresenta como o pai do “socialismo do século XXI”: se alinhando fortemente a Cuba, a qual vende petróleo a preços subvencionados. Nas eleições parlamentares do mesmo ano a oposição boicotou o processo eleitoral e Chávez obteve o domínio total da Assembleia Nacional. Na sequência, em 2006, já reeleito, assume o controle de 32 campos de petróleo pertencentes a empresas multinacionais, passando tudo ao controle majoritário da estatal petrolífera PDVSA.
Em 2007, passou a atacar deliberadamente a imprensa e órgãos de comunicação, dando mais um passo autoritário rumo a perpetuação no poder. A concessão a uma das principais redes de TV do país – RCTV (principal crítica de seu governo) – não foi renovada e o canal de TV saiu do ar. Neste contexto já existia uma ditadura clara…. desapropriações e o fim da liberdade de imprensa eram nítidos.
Em 2009, mais um passo autoritário foi dado: a proposta de reeleição por tempo indeterminado foi aprovada por emenda constitucional. Nesse cenário mais estatizações nos setores da economia foram tomadas, assim como o controle do aparato de estado aumentou gradativamente, também chegando ao Poder Judiciário.
Em 2010, a Venezuela já apresentava problemas com a inflação e o governo desvalorizou o bolívar forte diante do dólar. A dependência do petróleo é uma marca da inconstância do país diante as oscilações do preço do produto no mercado mundial. Ao fim de 2012,  Chávez é novamente reeleito para mais um mandato. Com câncer, retorna a Cuba onde fazia tratamento … a justiça permite que ele tome posse mesmo estando internado em outro país. Morre em março de 2013, e Maduro assume como presidente interino. Ainda em meio a comoção de sua morte, Maduro é eleito em abril em resultado contestado pela oposição.
Maduro assumiu em meio a um cenário de amplificação da crise e aumento do desabastecimento de vários produtos e gêneros alimentícios, assim como de uma crise energética. Ganhou mais poderes especiais da Assembleia, que o permitiu governar por decreto por um ano, impedindo manifestações populares contra o governo e prendendo um dos líderes da oposição -Leopoldo López- acusado de incitar a violência e à desestabilização do governo (permanece preso até hoje).
Mortes em manifestações e prisões indiscriminadas de estudantes passaram a ser a tônica de tratamento aos dissidentes. Ao sofrer derrota esmagadora nas eleições parlamentares de 2015, onde a oposição conquistou quase dois terços das cadeiras da Assembleia, Maduro tirou todos os poderes da mesma, tornando-a figurativa. Em seu lugar criou-se em 2017 uma Assembleia constituinte com membros bolivarianos escolhidos a dedo pelo ditador.
Em 2018, em novas eleições questionáveis e não reconhecidas por vários países, Maduro foi reeleito em um processo eleitoral onde figuras principais da oposição foram impedidos de participar do pleito. As instituições da Venezuela já deixaram de ser democráticas há mais de uma década….isso é inegável.
Resumir toda a situação atual venezuelana e a pressão pelo fim do governo Maduro por países comprometidos com a democracia ao interesse americano em intervir por causa do petróleo é um disparate muito cômodo de ser replicado pela esquerda latino-americana…é tapar o sol com a peneira e não aprender com a história.
Enquanto mais de 50 países: membros da União Europeia (Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, dentre outros); assim como EUA, Brasil, Argentina, Canadá, Chile, etc, já não reconhecem a ditadura de Maduro. Com Maduro estão ditaduras declaradas como a cubana, chinesa, russa, nicaraguense e turca.
Uma frase dita a mim por um professor doutor em ciência politica de uma universidade federal anos atrás – apaixonado pelo socialismo do século XXI e pelo lulopetismo – resume bem o que pensam: “eu prefiro errar com a esquerda a acertar com a direita.” Em suma… “sendo esquerda ditatorial ou democrática, tanto faz, apoiamos”. É uma ‘cegueira’ ideológica asquerosa.
É verdade que também temos estas figuras representadas à direita… que ainda no presente exaltam regimes ditatoriais do seu espectro ideológico, com propostas nacionalistas e de feição populista. Inclusive nosso atual presidente (também militar como Chávez) e seus ideólogos não escondem serem populistas de direita – como mesmo já se auto-classificaram seja via Olavo de Carvalho ou Steve Bannon (amigo de um dos filhos do presidente). Próprio Bolsonaro já exaltou Hugo Chávez há alguns anos, quando era amigo do petismo no poder.
Estes radicalismos são os inimigos declarados da democracia liberal em toda sua essência em nosso tempo presente. Devem ser combatidos na medida certa para não originarem novos ‘chavismos’ com pólos invertidos e mesmos vícios.

Aos amigos petistas e bolsonaristas – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Deixo aqui uma reflexão aos meus amigos petistas e amigos bolsonaristas do Facebook….sim, para ambos. Sempre busquei cultivar essa divergência de pessoas com visões plurais no meu facebook, apesar de ver dezenas de pessoas me excluindo por não aceitarem meus pontos de vista… somente nas duas últimas semanas já foram umas 15 ao menos que me excluíram de suas listas e foram pra suas ‘redomas de conforto’. Lembro sempre de um professor de escola que tive no ensino fundamental, que dizia sábias palavras: “não vivam em caixinhas de algodão, não sejam medíocres”.

Aos meus amigos de esquerda e que apoiam Haddad enfatizo o pensamento do sociólogo já falecido – Guerreiro Ramos – que em 1963, em seu livro ‘Mito e Verdade da Revolução Brasileira’ – enfatizava que a crise brasileira daquela época era também uma crise de cultura política. Para Ramos, o Brasil passava por um processo de orfandade política. A crise de liderança poderia fazer com que a tão falada e possível ‘revolução brasileira’ se tornasse uma ‘jornada de otários’. Haveria muitos que viviam de ‘gesticulações revolucionárias e de ficções verbais’. Ele também enfatizava que o ativismo que se manifestaria nos setores sindicais, na categoria dos sargentos e dos oficiais das forças armadas, e em outras esferas nacionalistas, constituiria enorme capital político, porém este capital estaria exposto ao ‘malbaratamento’, em meio a ausência de lideranças competentes e realistas, que dessem o devido sentido verdadeiramente nacional.

Fazendo logicamente algumas distinções com nosso momento presente, fica evidente os  erros semelhantes da esquerda promovidas agora no Século XXI. Durante a ‘democracia populista’ (1946-1964) – assim como agora com o lulopetismo – a esquerda considerava que sua permanência no poder seria perpétua, e que seus erros e ‘gesticulações revolucionárias’ e ‘ficções verbais’, assim como a construção do “nós contra eles” por  mais de uma década por meio de narrativas sem solidez iriam evitar essa debacle sem autocrítica …espero que realmente a façam agora. Foram essas gesticulações revolucionárias e ficções verbais que levaram o Brasil a este cenário de hoje.

Aos meus amigos bolsonaristas enfatizo uma reflexão e pensamento do Visconde de Uruguai – Paulino José Soares de Sousa – que foi deputado, senador, ministro e conselheiro de Dom Pedro II. Era membro do Partido Conservador e atuou como figura de relevo no período do chamado ‘regresso conservador’, também conhecido como Tempo Saquarema – entre os últimos anos do período regencial (fim dos anos 1830) e início do denominado “renascer liberal”, nos anos sessenta do século XIX. Paulino acreditava que era “ preciso empregar todos os meios para salvar o país do espírito revolucionário, porque este produz a anarquia, e a anarquia destrói, mata a liberdade, a qual somente pode prosperar com a ordem”.

Dito isso, enfatizo que nas normas e regras democráticas não cabe jogar um contra o outro e fazer discursos irresponsáveis, sendo um possível virtual presidente da República ou o deputado federal mais votado do país. Antes de mais nada, “a soberba é má conselheira”, conforme enfatizou Marco Antônio Villa, no Jornal da Manhã da Jovem Pan há quatro dias. Mesmo que Bolsonaro seja eleito com 60% dos votos ele terá que governar para aproximadamente 210 milhões de brasileiros… não pode ser um irresponsável que diga que os “vermelhos serão banidos do país”, que irão parar na “cadeia” apenas por suas visões antagônicas ao seu grupo político que ascende ao poder. Não cabe mais a um candidato à presidência da República que lidera as pesquisas de opinião com folga sobre seu adversário fazer discursos de ódio e terror contra opositores (petistas e bolsonaristas sempre gostam dessa estratégia para alimentar a guerra política). Ter certa ordem é vital a democracia…com desordem a mesma não impera; todavia que ordem pode preponderar quando a liberdade se torna seletiva pela visão ideológica?

Assim como os petistas se sentiram donos do poder por longa data, Bolsonaro também não pode pensar que será dono do poder. A legitimação de sua eleição pelas urnas não dá a ele plenos poderes para passar por cima das instituições vigentes. Seus desvarios e máximas devem ser contidas -e espero que sejam apenas retórica – no contrário esse governo será um fracasso, e os mesmos que hoje o estão pondo lá, com toda certeza brigarão para tirá-lo… sempre dentro das regras do jogo democrático, que espero que seja as regras que ele siga. Conciliar e dialogar é vital a um chefe de Estado…quem assim não seguir já caminhará para a tirania.

Aos que não se consideram de nenhum destes espectros mas votarão em um deles, ou mesmo anularão, apenas digo que o centro político é requisito essencial da integridade de poder, palavras sábias também ditas pelo sociólogo Guerreiro Ramos, em 1963.

 

O messianismo político e a mistificação petista – por Moacir Pereira Alencar Júnior

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Este artigo foi originalmente publicado na Revista Amálgama, no dia 11 de março de 2016 (http://www.revistaamalgama.com.br/03/2016/messianismo-politico-mistificacao-petista/)

Quatorze anos. Este é o tempo que o PT está completando em 2016 no Palácio do Planalto. Em seu quarto mandato consecutivo, o partido atravessa sua fase mais crítica e dramática no poder. O lulopetismo está sob pressão, e o cenário atual deixa claro que o segundo mandato de Dilma marcará uma virada de página na funcionalidade de nossas instituições republicanas.

Amparado por um discurso e uma propaganda eloquente, que construiu uma ideia de que o Brasil nasceu apenas em 2003, com a chegada de Lula ao poder, o PT criou em torno de sua órbita a imagem falaciosa de que apenas seus dirigentes são os legítimos representantes e a encarnação do povo brasileiro.

Ao promover a mistificação e criar um país de ficção nas propagandas político-partidárias, e ao mesmo tempo deslegitimar o processo democrático e a alternância de poder, o PT esqueceu há muito o projeto de Brasil e apenas se preocupou com o projeto de perpetuação sobre o controle da máquina pública, utilizando-se de mecanismos nefastos e hoje elucidados e conhecidos de todos: a corrupção institucionalizada, consagrando o presidencialismo de transação, exemplificados no Mensalão e no Petrolão.

Desde o início da Operação Lava Jato, no início de 2014, considerando dados atualizados até 8 de março de 2016 pelo Ministério Público Federal, já ocorreram mais de 627 manifestações, 118 buscas e apreensões, 108 quebras de sigilo fiscal, 128 quebras de sigilo bancário, 101 quebras de sigilo telefônico, 2 quebras de sigilo telemático, 1 quebra de sigilo de dados, 12 sequestros de bens, 4 sequestros de valores, 42 instaurações de inquéritos, 7 denúncias, 21 denunciados, 94 investigados, 4 prisões preventivas e R$78 milhões repatriados.

A reeleição de Dilma veio acompanhada de uma realidade diferente da ficção petista nas eleições: cortes orçamentários, repasses e recursos da União e Estados postergados, inflação fora do teto da meta, aumento de impostos, retração do crescimento da economia por tempo indeterminado e o aumento do desemprego, sem contar a cúpula do governo petista mergulhada no olho do furação das investigações por corrupção, caso do ex-presidente Lula e ministros do governo.

As oposições passaram a ser vistas pelos porta-vozes do petismo – que se encontram incrustados nas mais variadas esferas do Estado brasileiro – como algo incômodo, perturbador, capaz de ameaçar o “curso pacífico das transformações sociais”. E as investigações que atingem diretamente o Palácio do Planalto são categoricamente ridicularizadas e desqualificadas pelo PT e pela própria presidente, que abandona o cargo para ir acariciar a cabeça do investigado Lula em São Bernardo do Campo, em um gesto de subserviência ao criador e de profunda irresponsabilidade para com o povo brasileiro.

Em 4 de março, após a condução coercitiva de Lula para depor diante da Polícia Federal, o petismo mostrou que é capaz de tudo para defender seu líder messiânico; e Lula, sabendo de seu messianismo diante da militância, irresponsavelmente conclamou o séquito para a “guerra santa”. Tentar tripudiar e triturar todas as instituições que buscam “dessacralizá-lo” e mostrá-lo como um dos maiores responsáveis por este esquema de corrupção será sua “tônica de batalha”. Para isso vale tudo, até mesmo rasgar a Constituição e buscar foro privilegiado como ministro no Titanic comandado pela pior presidente da história da República.

Conforme destaca o historiador búlgaro Tzvetan Todorov, em Os inimigos íntimos da democracia, embora invoque o ideal de igualdade e liberdade, o messianismo político tem um objetivo final que lhe é próprio (estabelecer o equivalente do Paraíso na Terra), assim como meios específicos para alcançá-lo (Revolução e Terror). Em sua busca por uma salvação temporal, essa doutrina não reserva nenhum lugar a Deus, mas preserva outros traços da antiga religião, tais como a fé cega nos novos dogmas, o fervor nos atos que lhe são úteis, o proselitismo dos fiéis, ou a transformação de partidários caídos em combate em mártires, figuras a adorar como se fossem santos. As tentativas de impor um culto ao Ser supremo e de instituir uma festa para celebrá-lo resultam da mesma tendência.

Hoje, o que é paraíso para o PT, é inferno para a população brasileira. Não precisamos de líderes messiânicos, ainda mais corruptos. Não precisamos de falsos mártires, que se autodenominam jararacas e são tratados como “guerreiros do povo brasileiro” por um séquito doentio e tresloucado. O país não é o PT, e incompetência e irresponsabilidade têm limite.

Populismo deixa rastro de ruínas no continente – Opinião O Globo

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Na alternância cíclica entre autoritarismo e abertura política, o nacional-populismo aparece como atalho perigoso, que impede a reconstrução democrática

A América Latina, como mostra a História, é marcada por ciclos alternados de autoritarismo e abertura política. Infelizmente, não é raro que, ao sair de um regime ditatorial, o caminho à democracia plena se veja desviado perversamente por atalhos populistas, também autoritários, interrompendo o processo de reconstrução das instituições fundamentais da república. Em nome de uma ideia difusa de “libertação” ou da “defesa nacional” contra um inimigo externo, adultera-se a democracia, intervém-se na economia, personaliza-se o que é público, apadrinham-se segmentos da sociedade e corrompem-se agentes do Estado e atores da sociedade, com alto custo para o desenvolvimento político, econômico e social.

Argentina e Venezuela são hoje exemplos bastante típicos desse processo. Bolívia e Equador também, mas sem ainda enfrentar tantas dificuldades econômicas.

Com os bons ventos da economia internacional, expressos sobretudo na valorização dos preços das commodities, Buenos Aires e Caracas falaram grosso em nome do bolivarismo, categoria política incensada por Hugo Chávez, supostamente a favor do povo e contra o capital e o mercado. O kirchnerismo é da mesma família do bolivarianismo. Os dois países recorreram à retórica nacionalista dos regimes militares para intervir na economia: a Venezuela desapropriou e estatizou empresas; ambos controlaram preços e o câmbio; destruíram institutos de estatística econômica; se isolaram da economia global com políticas protecionistas; cortaram juros a canetadas; subsidiaram setores específicos; e aumentaram salários acima da produtividade real da economia.Quando estourou a crise internacional em 2008 e os desequilíbrios de suas políticas econômicas bateram firme no bolso da sociedade, o lado autoritário desse nacional-populismo tomou a forma visível da repressão, para conter revoltas e coibir a decepção generalizada. No caso venezuelano, vê-se um país à beira de uma ditadura formal, com a prisão de líderes da oposição, repressão violenta contra manifestantes, cerceamento da imprensa, desequilíbrio entre os poderes, e todo tipo de coerção contra candidatos às eleições parlamentares, cujo realização é incerta. Na Argentina, assiste-se ao ataque contra a imprensa profissional e até mesmo à morte mais que suspeita do procurador que investigava a presidente Cristina Kirchner.

No Brasil, as instituições republicanas mostraram até agora boa resistência às tentativas de hegemonização política do lulopetismo, representante deste nacional-populismo. Mas, no campo da economia, a adoção da “nova matriz macreconômica” empurrou o país para o mesmo caminho de infortúnio dos vizinhos bolivarianos.

O resultado, uma grave crise sem perspectiva de solução a curto prazo, cobra seu preço sobretudo da população mais pobre, inclusive aquele segmento que deixara estatisticamente a pobreza absoluta e corre agora o risco de retroceder. Por ironia, em nome de quem opera o populismo.

O GLOBO , 18 de outubro de 2015

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/populismo-deixa-rastro-de-ruinas-no-continente-17800377#ixzz3oxuyESLv
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No palanque contra a crise – Opinião Estadão

Dilma na Marcha das Margaridas - 12 de agosto, Brasília.

Dilma na Marcha das Margaridas – 12 de agosto, Brasília.

Dilma repudia energicamente o “vale-tudo” na política e seu novo herói para combater a crise econômica braba que o País enfrenta é Renan Calheiros, porque ela não concorda “com nenhuma medida aprovada que leve à instabilidade, tanto econômica quanto política do País”. Vamos por partes.

Finalmente convencida por Lula de que crise é coisa que se resolve no palanque, Dilma deitou falação em mais um evento da “agenda positiva”, agora no Maranhão do aliado governador Flávio Dino (PC do B), em solenidade promovida para entregar unidades do programa Minha Casa, Minha Vida. Como se a situação geral já não estivesse suficientemente ruim, a presidente acusou a oposição de estar apostando no “quanto pior melhor” e proclamou: “Vamos repudiar, sistematicamente, o vale-tudo para atingir qualquer governo. No vale-tudo, quem acaba sendo atingido pela torcida do quanto pior melhor é a população do País, do Estado e do município”. E explicou melhor, o que nunca é demais quando se trata de seus discursos: “Quanto pior melhor? Melhor para quem? É essa a pergunta. É pior para a população, é pior para o povo. É pior para todos nós”.

Dilma certamente sabe do que está falando quando se trata de vale-tudo. Pois este foi o método político do lulopetismo, aplicado nos tempos de oposição e de governo. Estão aí o mensalão, o petrolão e outros exemplos de menor impacto policial a demonstrar que para a elite do PT vale meter a mão no dinheiro do povo para financiar seu projeto de poder e, de quebra, enriquecer antigos guerreiros desse mesmo povo brasileiro. Por mais que Dilma jure que não tem nada a ver com essa parte do vale-tudo, não tem como negar que foi protagonista do estelionato eleitoral de 2014. A candidata à reeleição foi à TV para mentir sem o menor escrúpulo, ao acusar seus adversários de estarem “tirando a comida da mesa dos pobres” e prometer o paraíso na terra, só para, depois de eleita, começar a colar remendos na economia nacional, que ela quebrou em quatro anos. Fez o diabo e valeu tudo.

Na busca desesperada de soluções que salvem seu mandato, Dilma tem agora um novo herói. Mas terá ela dado uma olhada na folha corrida de Renan Calheiros, com quem está encantada porque ele acaba de descobrir a fórmula infalível para reerguer a economia? O pacote de propostas apresentado pelo presidente do Senado – que parece ter sido cozido com a ajuda do ministro da Fazenda – pode até vir a ser de alguma valia. Mas não é disso que se trata. Dilma discursou em São Luís que “o Brasil precisa, mais do que nunca, que as pessoas pensem primeiro nele, Brasil (…) e só depois pensem em seus partidos e em seus projetos pessoais”. Não é difícil de imaginar, com base no retrospecto de sua carreira política, no que Renan Calheiros, com o rabo preso na Lava Jato, está pensando primeiro.

Finalmente, Dilma diz-se indignada com medidas que levem “à instabilidade, tanto econômica quanto política do País”. Ela se referia à “pauta-bomba” urdida por Eduardo Cunha na Câmara para comprometer o plano de ajuste fiscal e desmoralizar o governo. Justa indignação, portanto. Mas hoje ninguém leva o País “à instabilidade, tanto econômica quanto política”, porque Dilma, Lula, o PT e seus vorazes aliados já se encarregaram disso com notáveis pertinácia e eficiência. A tal indignação vem tarde e cai no vazio, portanto.

A presidente da República deveria parar um instante para refletir sobre a relação entre a sua enorme impopularidade e falta de credibilidade junto aos brasileiros e a soma de seus muitos erros com a desfaçatez com que abusa da boa-fé e do discernimento das pessoas. Subir no palanque para repetir o mesmo discurso que a levou ao descrédito só pode piorar as coisas. Principalmente quando fica óbvio que toda essa encenação é cuidadosamente planejada no que se refere à “participação popular”. Para o evento em São Luís o governo maranhense providenciou a convocação de uma claque: 2 mil beneficiários do Minha Casa, Minha Vida, além de filiados a entidades e organizações sociais comprometidas com o petismo e suas linhas auxiliares, receberam transporte e, em muitos casos, lanche para aplaudir Dilma. Tudo no melhor estilo da fábrica de ilusões do PT.

Jornal O Estado de São Paulo – 12 de agosto de 2015

A tropa petista vai ao ataque – Opinião Estadão

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A presidente Dilma Rousseff, seu estafe e grão-petistas em geral têm reagido de forma agressiva e autoritária a todo tipo de reparo sobre o modo como o País vem sendo governado. Relatórios e análises que desmintam o cenário róseo descrito pela propaganda oficial logo são desqualificados pelas autoridades federais, como se os críticos – ainda que pertencentes a instituições internacionais importantes – fossem despreparados ou estivessem apenas movidos por má-fé.

É óbvio que os nervos afloram em época de campanha eleitoral, mas o que se espera da presidente é serenidade, pois ela ainda é a responsável pela administração do País. O que se tem notado, no entanto, é um crescente destempero.

O caso mais recente envolveu um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que colocou o Brasil entre as cinco economias emergentes mais suscetíveis de sofrer os efeitos de outra crise financeira global. As demais seriam Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul. Segundo o relatório, esses países estariam vulneráveis em razão de inflação alta e rombo nas contas internas e externas, entre outros problemas. No caso específico do Brasil, a situação das contas externas é qualificada de “moderadamente frágil”.

A resposta do governo a essa análise correta dos fatos foi truculenta. “Não faz sentido a conclusão desse relatório”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para ele, uma instituição respeitável não faria uma análise dessas e o estudo só pode ter sido elaborado “por uma equipe do FMI que eu não sei quem é”.

O ímpeto petista para desqualificar os críticos já chegou às raias do ridículo. Em fevereiro, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) propôs um voto de censura contra o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) depois que este incluiu o Brasil entre as economias vulneráveis. Segundo Gleisi, o relatório do Fed usou uma metodologia inadequada “para se chegar a conclusões confiáveis”. Na mesma sessão do Senado, outro petista, José Pimentel (CE), resumiu tudo ao dizer que o Fed é simplesmente incompetente.

Esse estilo arrogante é o mesmo que marcou a reação ao já famoso boletim do Santander, no qual o banco alertava os clientes que, se Dilma subir nas pesquisas, poderá haver “deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos”.

Embora apenas retratasse o ambiente carregado do mercado e dos investidores graças aos sucessivos erros cometidos pelo governo, o texto foi tratado por indignados petistas como “terrorismo eleitoral”. Descontrolado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a exigir a demissão da analista que elaborou o boletim, recorrendo a palavrões para desqualificá-la.

Já a presidente Dilma, em lugar de apaziguar os ânimos, seguiu toada semelhante, ao dizer que vai tomar uma “atitude bastante clara em relação ao banco” – ameaça que ficou pairando no ar – e acusou o Santander de “interferência” no processo eleitoral. O desequilíbrio é evidente.

Outro caso recente em que o governo tratou de desmerecer informações que contradizem o alardeado sucesso de suas políticas ocorreu na divulgação, pela ONU, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que envolve expectativa de vida, escolaridade e renda média. Segundo a organização, o Brasil aparece em 79.º lugar entre 187 países, tendo subido apenas uma posição em relação ao ano anterior. O ligeiro avanço foi encarado pelo governo como uma ofensa.

Nada menos que três ministros convocaram a imprensa para contestar os números usados pela ONU. Se os dados estivessem atualizados, disseram eles, o Brasil apareceria em 67.º lugar. Não é a primeira vez que o atual governo critica as contas do IDH – para as autoridades, se o índice não refletir os extraordinários avanços sociais patrocinados pelo lulopetismo, então ele só pode estar errado.

Diante desses casos, fica claro que o governo não pretende se limitar a rebater avaliações e números negativos. A tropa petista está de prontidão para ir além, desacreditando com agressividade todo aquele que representar o contraditório. Recordando Dilma: “Nós podemos fazer o diabo na hora da eleição”.

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JFK não existiu – por Roberto DaMatta

Antropólogo Roberto DaMatta

Antropólogo Roberto DaMatta

O Brasil é assim: a história é reescrita de dez em dez anos (como dizia Ivan Lessa); as pessoas viram pelo avesso (quem foi censurado tem agora belos motivos para censurar) e eventos e figuras históricas simplesmente não existiram. De um lado, são tidos como heróis indisputáveis; do outro, são tidos como bandidos e reacionários. O crime desaparece com o julgamento do mesmo modo que as nuances de um vida são reduzidas a duas ou três circunstâncias. As mentiras repetidas, conforme sabiam os nazistas, canibalizam os fatos e tornam-se verdades.

No Brasil do PT ficamos habituados a tudo contra o governo ser uma conspiração e tudo a favor, revolução. Temos, como escrevi em Carnavais, Malandros e Heróis, uma ética múltipla aplicada de acordo com a pessoa e o contexto de modo que todos os fatos são duvidosos. Estamos mais perto do George Orwell do que imaginamos: quem controla o presente controla o passado.

O que li sobre os 50 anos da morte de JFK inspira-me. Eis um homem multifacetado e contraditório, mas preso a um papel exclusivo: o de presidente da República. Um papel que fecha biografias e, mesmo nos Estados Unidos, hierarquiza o seu ocupante como o “número 1”, concedendo-lhe um tratamento aristocrático. Ademais, JKF foi um presidente muito jovem e por isso muito testado pelos soviéticos na crise cubana. Era um homem muito elegante e rico, um mulherengo freguês do proto-harém de Frank Sinatra e – eis um ponto crucial – ele teve morte súbita. Foi tirado da vida num papel capital por um louco que a ele se ligou pelo poder dos fracos. Num sentido preciso, JFK foi a primeira vítima da guerra que ele próprio alimentou: a “guerra fria”.

Mesmo quem não simpatizava com a política externa americana, como era o meu caso, foi atingido naquele 22 de novembro de 63 pela violência que tirou JFK deste mundo, lançando-o no reinado das biografias e dos mitos. O único modo de compensar moralmente o absurdo do infortúnio era imaginar algo equivalente: no mínimo, uma conspiração. Ainda mais quando testemunhamos em preto e branco, como foi o meu caso, o assassinato do assassino.

Quando saí do meu escritório na Bow Street e fui para casa, vi pessoas chorando e outras em pleno desespero. Naquele momento, não havia mais republicanos e democratas, estudantes e pessoas comuns, consumidores e fornecedores, esquerdistas e reacionários, nacionais e estrangeiros, brancos e negros. Todos se transformaram em órfãos nacionais; em cidadãos cujo presidente foi levado pela tragédia que atingia a todos por igual.

Um colega, leitor assíduo de Lenin, declarou-se chocado e foi ele quem primeiro me falou em “terrorismo” como uma parte do arsenal dos que não tinham dúvida de que os fins justificavam os meios.

Naquele frio e escuro novembro, vi pela primeira vez a histeria coletiva fora do Brasil. O Brasil que muitos supunham histérico por natureza (e que em abril do ano seguinte mergulharia em algo semelhante, assassinando algumas de suas instituições republicanas), mostrou-se dotado de uma incrível capacidade de tolerar e esquecer o que não deveria ser tolerado ou esquecido como os crimes políticos cometidos no que chamamos de “períodos autoritários”. Mas a Harvard, comedida e controlada, virou um amplo teatro de dor e angústia. Tal como vi décadas depois em Notre Dame, agora como professor e velho no 11 de setembro. O dia em que os americanos foram, pela primeira vez na sua história, atacados em seu próprio território. Tirando, é claro, a experiência sanguinária da sua Guerra Civil a qual, proporcionalmente falando, teve uma enorme, se não incomparável, magnitude.

Um outro elemento que depois de 50 anos surge com claridade no quadro social desta tragédia é que somos muitos. E JKF foi muita coisa, como descobrem esses Estados Unidos mais decepcionados consigo mesmos. Kennedy era um aventureiro sexual, acostumado a viver em mundos diversos e contraditórios. Por isso, talvez, ele tenha conseguido evitar uma guerra termonuclear a partir da crise cubana como diz de modo explícito o premier da União Soviética, Nikita Khruchev, nas suas memórias. Ali, o russo relata os esforços dos irmãos Robert e John Kennedy no sentido de evitar o pior, diante de um Fidel Castro muito justificadamente irritado e inflexível, porque para ele era óbvio que Cuba estava sendo usada como um teste para os Estados Unidos no grande confronto com a União Soviética.

A imagem de Kennedy, como a de outros heróis americanos, tem sido reavaliada com mais parcimônia e realismo. Afinal, ele foi um líder contra o bom e hoje velho e caduco comunismo e foi no seu governo que a guerra do Vietnã começou. Mas não se pode esquecer do seu papel como deflagrador do movimento dos Direitos Civis nuns Estados Unidos segregados.

Como seria o mundo sem um Kennedy é um exercício equivalente a imaginar um Brasil sem o suicídio de Vargas, a renúncia de Jânio e o Golpe Militar. Ou o Lulopetismo e figuras como José Dirceu que comandou o Brasil como o Capitão do Time do governo Lula e hoje comanda uma cela na Papuda.

Ninguém sabe com quem está falando – por Roberto DaMatta

Antropólogo Roberto DaMatta

Antropólogo Roberto DaMatta

Que o leitor me desculpe a autorreferência, mas para quem caracterizou o sistema brasileiro como dependente de uma dimensão hierárquica (a realidade do mais ou menos) que obriga em saber quem manda ou quem é dono — o famoso, mas pouco avaliado, “Você sabe com quem está falando?” — o mal-estar que nos assola tem tudo a ver com uma ausência de limites relacionada a uma forte presença da igualdade e a ausência significativa, típica do lulopetismo, de alguém capaz de ancorar responsavelmente a cena política.

A velha oposição entre direita e esquerda que sempre ajudou a montar a nossa cosmopolítica dividindo o mundo entre mal e bem, burgueses vendidos e nós, esboroou-se com as manifestações que trouxeram ao palco uma multidão de reivindicações, a maioria pedindo o final de dois pesos e medidas, de uma ética de condescendência típica das posições lulistas e messiânicas.

Fincadas na liberdade e exigindo igualdade, as passeatas inauguraram um escandaloso “ninguém sabe com quem está falando!” Deste modo, o mandamento central da nossa cartilha política sumiu depois das reações da presidente, cujo resultado criou novos confrontos. Mas o clímax desta ausência de limites foi a entrevista à “Folha de S.Paulo”, na qual se lê que Dilma e Lula são “indissociáveis”. Formam, como eu insinuei nesta coluna faz tempo, um perfeito ato de ventriloquia. Agora ninguém sabe mais se está falando com o ventríloquo ou com o boneco.

As passeatas testam de modo intenso onde estão os limites. Elas também desnudam a falta de interlocução entre as forças sociais que o próprio exercício da democracia liberal libertou entre nós. Nas repúblicas, tal papel cabe ao Poder Executivo. Um poder solitário, próprio de um personagem capaz de eliminar as arestas do impessoalismo da dimensão liberal, fundada no consentimento e na difícil ética de dizer não aos nossos desejos e interesses.

Como entender o nosso pobre, querido, passivo e abandonado “povo” quando ele deixa de ser a parte passiva de discursos populistas controlados por um partido, e passa a ser um protagonista livre a clamar não por uma revolução, mas por um estilo de governar mais sincero, mais honesto e menos mentiroso? Mais próximo das necessidades pagas pelo trabalho desse povo, o que faz das passeatas também uma cobrança. Uma exigência de reciprocidade depois de uma década e pouco de megapublicidade despudorada e promessas não cumpridas?

A explicação de que tudo foi obra de redes eletrônicas é importante, mas não se pode esquecer que nenhum computador opera sem ter sido ligado. Para que as redes influenciem, é preciso fazer parte de uma teia. De uma rede que valorizamos e seja capaz de ordenar para nós.

O fato novo é o elo entre individualismo, transparência e igualdade em tempo real e global. É a vida num universo translúcido no qual a comparação é um dado essencial e que, por isso mesmo, não pode conviver com a opacidade de um sistema de governo desenhado para manter os labirintos sombrios dos que se tornam aristocratas (e milionários!) pela política. É preciso liquidar a distância entre o ético e o legal onde nascem as oligarquias e os privilégios que sempre foram o apanágio do poder à brasileira. São eles que separam o abismo entre o circo futebolístico “padrão Fifa” do pão amargo de um transporte, de uma saúde, de uma educação e de uma segurança abaixo de todos nós — as pessoas comuns.

Vivemos hoje a rejeição de um mundo ideológico tão a gosto de um desonesto receituário político. Esquerda e direita escondem quem manda mais e quem manda menos; quem é realmente responsável pela torrente de escândalos que a mídia e as redes não podem abafar. Do fundo da megalópole dita sem alma, surge um povo livre de partidos. Sobretudo do partido do poder. O povo, curiosamente individualizado na passeata, aponta a dissonância: há um padrão internacional para o futebol, mas não há um padrão decente para a moralidade pública.

O resultado é uma perturbação histórica. No país do “Você sabe com quem está falando?”; na terra dos barões, dos populistas e dos que sabem tudo, não temos mais com quem falar. Há uma busca, mas a presidente ouve e não escuta. Ela gerencia: decreta e discursa. E quando o faz, cria outras passeatas e abre a coletividade para novos problemas.

Um lado meu teme pela ausência de atores mais conscientes dos seus papéis; um outro, otimista, acha que começamos a descobrir que democracia tem a ver com uma anarquia controlada. Um sistema onde cada qual sabe do mais difícil: a grande arte de dizer não a si mesmo.