Quando pensamos em uma nova figuração do mundo no século XXI, as primeiras coisas que surgem em meio ao caos são reinterpretações de fracassos sucessivos, abomináveis e totalmente desconexos dos séculos XIX e XX. Elites dirigentes momentâneas, efêmeras e sem brio, buscam reinterpretar a história e remodelar o passado.
A revolução, como conceito de ruptura, de construção do novo, é confundida com uma nova releitura do passado, leitura enviesada e repleta de anacronismos. É uma ‘revolução’ descontextualizada, com atraso secular – e por consequência – incompatível com a nossa realidade.
A passividade ‘revolucionária’ ocidental, originou uma elite dirigente que recorre constantemente a modelos obscuros de um passado que em pouquíssimos casos resultou no sucesso. A humanidade parece viver um processo de constante sazonalidade, onde ideias que perecem de credibilidade e sustentação voltam a ser reativadas em certos momentos-estanque.
A incapacidade de construir algo promissor e revigorante em nosso presente, é fator de corrida ao passado, já que o presente demonstra-se sem fisionomia, medíocre e desinteressante.
Na Grécia – berço da democracia – assistimos ao caos das instituições que foram bases de construção da cultura ocidental. Porém, isto não significa o fim ou mesmo a desconstrução da ideia de Democracia criada por Sólon e continuada e aprimorada por Clístenes. Se analisarmos a Primavera Árabe, veremos uma quantidade notável de povos que lutam contra o absolutismo e a autocracia, buscando a conquista desta mesma Democracia que na Grécia atual apresenta um processo forte de descrença.
O mundo do Século XXI é envolto de obscurantismos e de um fusionismo cada vez mais extremado….a tentativa de conciliar opostos descontextualizados não se soma, mas sim criam abismos cada vez mais clamorosos entre diferentes culturas.
O lema da Revolução Francesa: “Liberté Egalité Fraternité” foi tomado como palavra de ordem de diferentes povos sem se analisar conjunturas, estruturas e superestruturas. A fisionomia dos povos foi apagada, assim como as suas respectivas histórias. Coube a um grupo limitado de indivíduos a imposição de um status quo que apresenta desvarios, sombras e total perplexidade.
Como o mundo agirá a isso??
Seria a Democracia um tesouro inalcançável?? O que difere a mesma de uma autocracia??
Segundo René Char, “Nossa herança foi deixada sem nenhum testamento”….porém para outros pensadores do início do Século XX, como Franz Kafka: “O homem na plena realidade de seu ser concreto vive nessa lacuna temporal entre o passado e o futuro”